‘Preserve o melhor da cultura e deixe para trás o que não é bom’, diz secretário-geral da ONU sobre mutilação genital feminina

Mensagem do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para o Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, lembrada no dia 6 de fevereiro.

Comunidade em Uganda que abandonou a mutilação genital feminina. Foto: UNFPA
Comunidade em Uganda que abandonou a mutilação genital feminina. Foto: UNFPA

“Como secretário-geral das Nações Unidas levanto bem alto a bandeira do empoderamento das mulheres e meninas, promovendo sua saúde e defendendo seus direitos.

O Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina é uma oportunidade para enfrentar este problema persistente, e para encontrar esperança em iniciativas que provam que se pode acabar com a esta prática.

Devemos lutar para preservar o melhor de cada cultura e deixar para trás o que não é bom.

Não há nenhuma razão religiosa, de saúde ou de desenvolvimento para mutilar ou cortar qualquer menina ou mulher. Embora alguns argumentem que é uma “tradição”, devemos lembrar que a escravidão, as mortes por honra e outras práticas desumanas foram defendidas com o mesmo argumento.

Apenas porque uma prática dolorosa existe há muito tempo não justifica sua continuação. Todas as “tradições” que rebaixam, humilham e ferem são violações dos direitos humanos que devem ser ativamente combatidas até que acabem.

ONU marca Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina

A mutilação genital feminina causa graves danos às vítimas. Entre as consequências na saúde, imediatas e de longo prazo, incluem-se dor constante, infecções, incontinência e às vezes complicações na gravidez e no parto que podem levar à morte.

A prática está caindo em desuso em quase todos os países, mas ainda está assustadoramente espalhada pelo mundo. Embora dados estatísticos seguros sejam difíceis de obter, estima-se que mais de 125 milhões de meninas e mulheres tenham sido mutiladas em 29 países na África e no Oriente Médio, onde a prática prevalece e onde há dados disponíveis.

Se as tendências atuais persistirem, cerca de 86 milhões de meninas em todo o mundo estão sujeitas a sofrer a prática até 2030. Ásia, Europa, América do Norte e outras regiões não são poupadas e devem estar igualmente vigilantes para com este problema.

Felizmente há sinais positivos de progresso em nosso esforço global para acabar com esta prática dolorosa.

As meninas entendem instintivamente os perigos de serem mutiladas, e muitas mães, que viram ou experimentaram o trauma, querem proteger suas filhas de passar pelo mesmo. É encorajador que cada vez mais comunidades se estão se reunindo e concordando publicamente para acabar com a mutilação genital feminina e garantir uma vida melhor para suas meninas.

Recentemente, Uganda, Quênia e Guiné-Bissau adotaram leis para terminar com a prática. Na Etiópia os responsáveis foram presos, julgados e penalizados com ampla cobertura da imprensa, conscientizando dessa forma o público.

As Nações Unidas e seus parceiros estão envolvidas em atividades culturalmente sensíveis que visam a terminar com a mutilação genital feminina sem censura ou vergonha.

No Sudão, estamos assistindo a uma mudança social numa campanha chamada “Saleema”, palavra árabe que quer dizer completo, intacto, todo e intocável. Um pai, tocado pelo esforço, decidiu deixar suas filhas sem mutilações e explicou: “Uma menina nasce Saleema, dessa forma deve permanecer Saleema”.

Centenas de comunidades abraçaram esta iniciativa, expressando seu apoio através de música, poemas e roupa nas cores brilhantes da marca da campanha. Outros países estão reproduzindo a Saleema ou pensando soluções direcionadas para suas necessidades locais, como o Quênia, onde os mais velhos da comunidade Meru proibiram a prática e prometeram penalizar quem pratique ou ajude a levar a prática a cabo.

Para além da prevenção, as Nações Unidas estão trabalhando com parceiros para ajudar aquelas que foram afetadas pela mutilação genital feminina.

Avanços médicos pioneiros agora permitem aos médicos reparar os danos causados nos corpos das mulheres e devolver-lhes sua saúde. Cito as palavras de uma médica que trabalha em Burkina Faso que descreveu “o alívio que oprime as mulheres” após a cirurgia, que ela afirma ser 100% efetiva. As mulheres que não têm recursos precisam viajar até as clínicas certas, e os programas que oferecem o tratamento merecem apoio generoso.

A resolução histórica da Assembleia Geral, que proclamou a celebração deste Dia Internacional, foi apoiada por todos os países da África e abraçada por todos os membros das Nações Unidas. Este avanço demonstra o grande valor da ONU quando age com uma só voz para defender os direitos humanos universais.

Nosso desafio atual é dar verdadeiro significado a este Dia, usando-o para ganhar apoio público, criar mecanismos práticos e legais e ajudar todas as mulheres e meninas afetadas ou em risco de mutilação genital. O efeito será profundo, poupará sofrimento e estimulará o sucesso. Os benefícios terão repercussões em toda a sociedade, uma vez que estas mulheres e meninas prosperarão e contribuirão para um futuro melhor para todos.”

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